data-filename="retriever" style="width: 100%;">Como servidor público há mais de 25 anos, com tristeza, afirmo que o valor dado às pessoas dessa categoria, cada vez menos, é valorizado. Se não bastassem os tempos difíceis e sombrios vividos no governo Bolsonaro, o servidor público virou o vilão da crise brasileira. É o bandido da hora, o culpado de todos os males do país. É o sujeito que trabalha pouco e ganha muito. Afinal, é o bode expiatório, fruto de uma campanha orquestrada pela grande mídia e por políticos covardes e sugadores do patrimônio nacional.
Pior do que isso, é ver a maioria da população acreditar na falácia da elite política e econômica do país, que, dia após dia, fuzila os servidores públicos de todas as esferas. Mal sabem as pessoas que, sem o serviço e os servidores públicos, o povo mais carente e a classe média ficam à mercê da sorte nas áreas de saúde, educação e segurança, só para citar três. Os abastados, por sua vez, têm recursos para pagar qualquer atendimento na área privada. Então, muita gente joga contra si quando ataca e menospreza o servidor público.
Evidente que temos os bons e os maus servidores públicos. O mesmo vale para os profissionais que atuam na iniciativa privada. A reforma administrativa proposta pelo governo federal visa a tirar direitos dos servidores públicos e, por tabela, vai prejudicar a população mais necessitada que precisa do serviço público. A iniciativa pretende: 1) eliminar o RJU (Regime Jurídico Único); 2) acabar com a estabilidade do servidor; 3) extinguir a garantia de irredutibilidade salarial; 4) permitir a redução de salário e de jornada; 5) ampliar o estágio probatório; 6) reduzir o salário de ingresso no serviço público; 7) proibir as progressões e promoções automáticas; 8) ampliar o tempo de permanência na carreira; e 9) criar carreirão transversal, cujos servidores serão contratados pela CLT e distribuídos para os órgãos governamentais. Basta ter bom senso e um pouco de coerência para lutar contra mais esse pacote de maldades proposto por Bolsonaro e seus aliados.
Outro ponto que destaco, também com muita decepção, diz respeito aos ditos "novos gestores" do serviço público, cuja atuação deixa muito a desejar no quesito de tratamento dos recursos humanos. Priorizam os indicadores, os relatórios, as planilhas, os ajustes fiscais e monetários, em detrimento da boa relação humana e da valorização do ambiente de trabalho. A soberba caminha de mãos dadas com o carreirismo medíocre que o sistema oferece, sem falar no puxa-saquismo tradicional brasileiro, aquele que premia pela conversa bajuladora e a ação ineficiente. Lamentavelmente, tem gente que, só ao lamber o mel do pote, fica extasiado de prazer pelo cargo que ocupa.
Certos "novos gestores" pregam o diálogo, a participação coletiva e propõem planejamentos fantásticos. No entanto, tomam decisões autoritárias, do tipo "eu decido e pronto". Volto a ressaltar: o serviço público é feito por pessoas e para pessoas. Cada repartição tem uma história construída por pessoas, que chegaram antes e lutaram pela manutenção e avanço daquele setor, mesmo diante de inúmeras dificuldades. Então, os novatos precisam entender e respeitar que estão ali porque outros, com seus acertos e erros, foram artífices da construção.
A experiência e o conhecimento precisam ser respeitados e valorizados. Conhecer a tecnologia e o seu uso é importante, porém, a expertise humana é fundamental. Falo no agir como ser humano e fazer com competência, algo que é conquistado com o tempo, não com conversa fiada, leituras rasas e meros apontamentos nas planilhas de Excel.
O serviço público não visa ao lucro e está justificado no interesse público, não em indicadores nem planilhas. As pessoas são a razão da vida e merecem ser tratadas como tal, hoje e sempre.